Livro indiscreto..

Persigo a verdade
de uma palavra
de um som
de uma cor
de um desejo prometido
partilhado e remetido
entre um livro fechado
lacrado que de longe observo..


Será a verdade aquilo que procuramos
ou será apenas mentira do quotidiano
que perdura na nossa mente à espera de ser
alimentada e devorada pela nossa autocritica
tal forma de protecção de um futuro
que se deseja, que não se tem
não se vê mas se sente
tal alma que devora com o coração
e em que os olhos refletem
tal ambição social de afecto..


A memória perdura
procura na sua penumbra
o que o coração não mais quer
mas pelo que essa alma
incessantemente chora..
Serão estas páginas
brancas o epílogo
de toda uma contestação
da liberdade da imaginação
tais pedaços de história
vagamente decorados
entre lacunas
que deixo preencher
e outras cujas
palavras me faltam..


Esse capítulo deslocalizado
de realidade mudana
vicio tipicamente trajano
perco a voz
corpo e alma
corro num sonho
perseguindo o infinito
o céu, terra e mar
até a alma ficar para trás
liberto-me da dor monótona
que me persegue
nas mesmas páginas
que aqui e ali vou reescrevendo
à custa das lágrimas derramadas..


Da ilusão irremediável
faço um conto de tudo
de um todo despropositado
existencia na amarga
solidariedade irreal
que jamais reflete
amor e alegria
entre as palavras
que estas páginas absorvem
e não deixam mais ver
o passado que se reescreve
neste livro
da vida
de uma vida
de alegria e dor
de tristeza
de esperança
mas sobretudo de amor..


- André Cortez

Alma delicerada..

Sou mais do que um poeta
sou gerador de almas
entre enredos de espadas
que desafiam a força moral..

Prisioneiro de sentimentos
vivo
enquadrado como que num belo sonho
idealizado entre palavras e gestos
perdidos por um qualquer recanto da alma
e sofregamente difundidos por toda a humanidade..

A certeza queima
fere-me de morte
pois a beleza
que outrora contemplara
permanece agora estatica
certamente pragmática
quanto à certeza
do que hoje não vejo
hoje não sinto
hoje não aprecio..

Do vazio faço espaço para o sempre
que amanhã não retornará
e que o hoje controla
por entre mágica e alquimia
domina e pelas quais determina
a expulsão de algo
tão magnifico quanto grandioso
do seu ser meu..

Objecto distante esse que mata
e não mais fere,
que de lágrimas faz sangue
e da alegria, tristeza
um mundo de cores a um só tom
esse mundo virou o meu..

Ontem amá-mos a esperança
hoje o desafio
amanhã apenas a eternidade
cerrada numa palavra
amor..


- André Cortez